Dias úteis: 09h às 20h 913 400 204 geral@recriarsentidos.pt

Como ajudar as crianças a lidar com a morte?

Muitas vezes, pais e familiares, optam por não falar da morte aos mais novos considerando que os estão a proteger da exposição a uma profunda dor. Contudo, esta pode não ser a melhor estratégia a adotar para lidar com a morte de um ente querido. Portanto, saiba neste artigo porque e aprenda a gerir melhor a perda de um familiar ou amigo.

Falar sobre a morte…

O silêncio, as meias-verdades ou as informações contraditórias, habitualmente, geram nos mais novos um sentimento de confusão e desamparo.

Vamos contar a seguir a história da Teresa que exemplifica o perigo de não sermos transparentes nas informações que damos às crianças…

Teresa era a menina dos olhos do avô. Todos os dias, era ele que a ia buscar à escola, iam para casa felizes, comiam um gelado pelo caminho e brincavam até os pais a irem buscar. O avô repreendia a Teresa sempre que ela se portava mal, mas não dispensavam o beijinho e o abraço apertado na hora da despedida!

Mas, um dia, quando a Teresa saiu da escola, foi a D. Celeste, a vizinha, que a levou para casa. Lembra-se de ter perguntado pelo avô e a senhora não ter respondido. Ficou a dormir em casa da D. Celeste e ela levou-a à escola no dia seguinte. A professora perguntou-lhe como estava e ela não percebeu nada, pois não estava doente. No dia seguinte, foi a mãe que a foi buscar. Estava muito triste e abraçou-a com muita força. Perguntou pelo avô e a mãe respondeu: “O avô foi viajar…”. Passou um ano e a Teresa todos os dias pergunta pelo avô e continua à espera que ele chegue…

Como gerir o momento da morte de um ente querido?

Lidar com a morte: a verdade…

Em primeiro lugar, é necessário compreendermos que é essencial que os adultos contem a verdade. A cima de tudo, as crianças precisam de receber informações precisas sobre o que aconteceu. Logo, justificar a ausência da pessoa com explicações do género “está numa viagem muito longa”; “está a dormir para sempre” ou “Deus levo-a/o para o pé dele”, não é a melhor solução. Dessa forma, pode induzir na criança um sentimento de abandono ou medos específicos como medo de ir dormir ou que Deus também a venha buscar a ela ou outras pessoas. Além disso, informações pouco claras dificultam que a criança compreenda que se trata de uma perda irreversível e não um afastamento temporário.

Afinal, à semelhança dos adultos, as crianças também vivenciam a perda através de um processo que inclui uma fase de negação, tristeza, raiva e aceitação. Por isso, ao afastar os mais novos da realidade da perda poderá acentuar a reação inicial de negação dificultando a passagem para a fase da elaboração da perda e da aceitação.

Por conseguinte, damos-lhe a seguir algumas dicas que o podem ajudar.

Dicas importantes para ajudar as crianças enlutadas:

  • Seja verdadeiro/a e explique que a morte é permanente
  • Não dê explicações para a ausência da pessoa que possam originar medos na criança
  • Converse sobre a morte e a dor honestamente
  • Esteja disponível para ouvir e esclarecer as dúvidas da criança
  • Incentive a criança a expressar os seus sentimentos
  • Dê carinho e conforto
  • Se a criança desejar, permita que esta visite locais que estejam relacionados com a pessoa que morreu, manuseei os seus objetos, veja fotografias, participe nas conversas… Assim, irá ajudá-la a que não se sinta só nesta dor e que reintegre a perda mais facilmente
  • Em relação à cerimónia fúnebre deve ser explicada a finalidade daquele momento (despedida). Logo, deve ser respeitado o desejo da criança de não estar presente ou se esta optar por participar deve ser sempre acompanhada por um adulto significativo
  • Dê tempo e espaço para que a criança vivencie o seu processo de luto (ainda que existam algumas fases definidas, cada pessoa vive o luto de uma forma muito particular, sendo este um processo e não um caminho linear)

Por último, lembre-se, as crianças têm capacidade para lidar com a morte. Assim sendo, a perda de um ente querido não tem de se tornar um trauma para as crianças. Mas, tudo depende do modo como os adultos as ajudam a lidar com este processo.

Reflita…

“Qualquer pessoa com idade suficiente para amar é velho o suficiente para se lamentar” (Wolfelt, 1991)