“Só procura um psicólogo, quem não tem amigos”. Este era o meu pensamento no dia da primeira consulta. Mais tarde descobri o quão enganado eu estava.
Cansado de um padrão que se vinha a repetir ao longo dos anos, em momentos específicos da minha vida, decidi recorrer à ajuda de um psicólogo para me ajudar a perceber o porquê das pessoas fazerem e agirem para comigo de determinada forma. Mais uma vez descobri que estava muito enganado: o problema não estava realmente nos outros, mas sim na forma como se calhar eu os julgava.
A minha especialidade foi, desde muito cedo, “fazer filmes” em tudo o que vivia, nomeadamente naquilo que envolvia relação com outras pessoas. Vivia num estado de hiper vigilância que amplificava o medo de não ter um ombro amigo quando eu precisasse e com o receio de que todos me iriam abandonar no primeiro momento difícil da minha vida. Pintava cenários diversos, mas o resultado final era sempre o mesmo: sozinho!
Para evitar esse final tentava controlar todos os pormenores da minha vida. Planeava, julgava e custava-me muito a aceitar o que não era como eu queria.
Com o passar das sessões aprendi variadíssimas coisas. Aprendi que, no meu caso, “fazer filmes” é extremamente perigoso pois conseguia arranjar argumentos altamente sólidos para conseguir ver o que não existia, e como tal, alimentar um “monstrinho” interior que me levava a ser inadequado na minha relação com os que mais gostava. Sim! Os meus filmes eram só com as pessoas que eu mais gostava e realmente me importavam.
Pior que ser inadequado com os outros, era o facto de me autobloquear em novas relações, pois o resultado final que eu planeava, mais uma vez, não mudava: so-zi-nho! Pois… mais tarde descobri também que efetivamente, estar sozinho não é sinónimo de não ter ninguém.
Nos maiores momentos de insegurança, havia na minha cabeça um ruído que se tornava verdadeiramente ensurdecedor. Ao longo das seções de terapia, consegui desenvolver algumas técnicas que me fazem baixar o volume desse mesmo ruído. E agora consigo ouvir, realmente, coisas bonitas. E sabe tão bem!
Mas atenção! Plenamente consciente de que esse ruído não desapareceu por completo, quero manter os pés bem assentes na terra. A verdade é que os ruídos, de vez em quando, ainda aparecem em força, mas a resposta ao ruído é que é diferente.
Quando exposto a esse ruído, questiono várias vezes: “Quão razoável é o que estou a sentir? Que exemplos tenho que me provam exatamente o contrário daquilo que estou a pensar?”.
Aprendi também que existem menos benefícios em querer controlar todos os pormenores de tudo o que me rodeia, do que viver as situações inesperadas com profundidade de quem se entrega ao desconhecido e o vive.
Neste momento, sinto-me uma pessoa com muito mais empatia, que a todo o momento tenta substituir o julgamento, os rótulos e o controlo, pela curiosidade, aceitação e vivência plena.
Hoje sinto-me confortável para poder ir até ao passado e aceitar o que fiz e pensei, porque o futuro deixa-me entusiasmado.
Obrigado, Rita! Obrigado, porque em todas as seções senti que eu era o objetivo. E o objetivo foi cumprido.
José Pedro Domingues
Setembro 2021